12.7.12

Trinta e dois golos, zero internacionalizações

Wolfsburgo (Alemanha) e Herenveen (Holanda) são dois clubes amigos dos goleadores, mas que invariavelmente os perdem para os mercadores mais ricos. O Wolfsburgo "inventou" e ficou sem Grafite e Dzeko. O Herenveen tem no hsitórico Ruud Van Nistelrooy, Afonso Alves e Klaas-Jan Huntelaar. A queda destes dois emblemas para o golo tinha de se cruzar um dia. E cruzou-se este mês. Esse cruzamento chama-se Bas Dost. É um ponta-de-lança holandês de 23 anos com quase dois metros de altura e que marcou 32 golos na liga doméstica. Bas Dost terá custado menos de 10 milhões de euros. No Euro 2012 a Holanda (Kuyt, Van Persie, Huntelaar, Luuk de Jong, Narsingh, Afellay) marcou dois golos em três jogos. Bas Dost foi o melhor goleador holandês na época 2011/2012. Nunca vestiu a camisola laranja.
fonte: zerozero.pt, transfermarkt.de



19.6.12

Os empates de Varsóvia têm os dias contados

29 de Fevereiro de 2012. Portugal foi à Polónia estrear o novo Estádio Nacional e empatou a zero. Três meses mais tarde, o estádio abriu as portas para a cerimónia de abertura do Euro2012 e para o pontapé de saída do torneio, entre gregos e polacos, tendo o jogo terminado com um empate a um golo. Quatro dias depois, a Polónia jogou com a Rússia e o resultado foi... outra vez um empate (e outra vez a um).

Ninguém venceu e ninguém ainda perdeu no Estádio Nacional, em Varsóvia. Esta tendência chega ao fim na próxima quinta-feira. Em 90 ou em 120 minutos. Ou então nos 11 metros. Portugal e República Checa desempatam a história deste campo da bola.

A lista negra de Wolfgang Stark

Os jogadores da Bundesliga, há pouco mais de um ano, ao votarem no pior árbitro do campeonato, elegeram Wolfgang Stark e com maioria absoluta. Quase no fim desta época, num jogo para definir quem descia de divisão, entre o Herta de Berlim e o Dusseldorf, Levan Kobiachvili, do Herta, invadiu o balneário do árbitro e deu um murro no pescoço de Stark. O jogador georgiano foi castigado com um ano de suspensão.

Este árbitro alemão de 43 anos tem dias em que vê muito mal ao perto. No Croácia-Espanha do Euro2012 não viu dois penáltis na área de La Roja e lance duro de Sérgio Ramos sobre Mandukzic mandou jogar, ele que há pouco mais de um ano, na meia-final da Liga Campeões entre Real Madrid e Barcelona, expulsou Pepe por entrada igualzinha sofre Dani Alves. Em cartões amarelos, Croácia 6, Espanha 0...

Em 2007, no mundial de Sub-20, Stark apitou amis de uma falta por minuto num Chile - Argentina. Rezam as crónicas que um argentino levou com um bola no joelho depois de o jogo estar parado e que se queixou do rosto. Stark expulsou um chileno por agressão. À segunda expulsão chilena, um adepto vestido de condor invadiu o campo e tentou agredir o alemão que foi útil à Espanha no jogo com a Croácia.

Wofgang Stark nos tempos livres gosta de andar de moto e de jogar hóquei em campo.

Fonte: WorldReferee

18.6.12

O Custódio conquistou o mundo em 14 minutos

Será um improvável trabalho de reportagem, o de encontrar a pessoa responsável pelo preenchimento da ficha de jogo do Bétis de Sevilha - Sporting, de 3 de Agosto de 2002, no estádio da Maia. Nessa ficha, escrita algures entre os balneários e a sala onde estava a impressora, no banco de suplentes havia um Custódio com o número 28.
Esse Custódio entrou em campo, lançado por Lazlo Boloni, aos 77 minutos, substituindo Rui Bento. Aos 91 minutos, ganhou uma bola no ar com o calcanhar e foi atrás dela pela esquerda. Fintou o guarda-redes e com pouco ângulo e baliza ainda uma distância considerável, atirou sem medo uma banana maior do que as bananas da Madeira. O número 28 não era Custódio, era Cristiano Ronaldo, 14 minutos em campo e um golo que correu o mundo.
Por linhas tortas, se fez a primeira impressão daquele que quando terminar a carreira deverá ser também conhecido como o melhor jogador português de sempre. E talvez mais do que isso.

31.5.12

Conhecer Brendan Rodgers, o novo treinador do Liverpool, pescado um dia por José Mourinho

O convite do Liverpool chegou há duas semanas e Brendan Rodgers recusou a oferta. Estava bem no Swansea - clube que já foi treinado por Paulo Sousa - e deixou-se estar. Até hoje. Hoje o convite foi aceite. Brendan Rodgers é o novo manager do Liverpool. Tal como aconteceu com Andrea Stramaccioni, uma lesão acabou prematuramente com a carreira de Rodgers. O departamento médico detectou um problema genético num joelho e não havia nada a fazer. O jovem jogador da Irlanda do Norte pendurou as chuteiras com apenas 20 anos. Tinha acabado de ser transferido do Ballymena United para o Reading e por lá ficou, com outra missão, junto dos escalões de formação, até assumir anos mais tarde a pasta do departamento. Saiu para o Chelsea, a convite de José Mourinho, e assumiu a liderança da equipa de reservas dos blues. Em 2008 foi chamado para manager do Watford, tendo levado com ele Frank Lampard Senior, a título de consultor para o futebol. Ficou um ano e regressou ao Reading como líder. A seguir foi para o Swansea, de onde saiu hoje para o Liverpool, aos 39 anos.
fonte: BBCSports, Guardian.co.uk

30.5.12

Stramaccioni depois da primavera

Há 18 anos o treinador do Inter de Milão tinha 18 anos, fazia parte do plantel do Bolonha, era defesa, era ainda jogador de futebol. Não o foi durante muito mais tempo, porque uma lesão grave no joelho acabou com a carreira de um futebolista que tinha acabado de chegar à idade de tirar a carta.
Com 36 anos, já no último mês de março, no dia 26, Andrea Stramaccioni baixou o olhar para a mesa da sala de imprensa de Appiano Gentile, adoptou uma postura adulta perante mais uma criancice de Mário Balotelli, avançado do Manchester City, que interrompeu a apresentação do novo treinador do Inter, apenas para dizer "ciao, sono qua".
Dias depois da apresentação, Andrea Stramaccioni, ainda não tinha uma página na Wikipédia. Chegou ao topo antes de ter chegado à internet. O que de certa forma, é especial.
Fora da rede, trabalhou nas camadas jovens da Roma e do Inter, a categoria primavera, como em Itália chamam ao escalão imediatamente anterior aos vinte anos, destinado ao jogadores da mesma idade que Andrea tinha quando acabou para o futebol.
O tempo encarregou-se de relativizar o verbo acabar.

fonte: goal.com

24.5.12

O primeiro romance de Amalfitano sem Roberto Bolaño

O professor Amalfitano tem direito a um capítulo inteiro, que também pode ser entendido como um livro, em 2666 e volta a ser "convocado" por Roberto Bolaño noutras obras.
Há um outro Amalfitano que joga à bola na segunda divisão francesa, no Reims, e que acaba de ser contratado pelo Newcastle, da primeira liga inglesa. Romain Amalfitano vai ter o seu romance pessoal de verão aos 22 anos. Deverá o acordo à literatura das chuteiras, que é o que se exige aos médios ofensivos. Aqui não há Roberto Bolaño para guiar a história, o que se lamenta, o que se lamenta.

22.5.12

A técnica primitiva de Didier Droga e a Torre Eiffel

Didier Droga teve de partir muita pedra até chegar ao momento em que se encontrou a onze metros da baliza de Manuel Nuer. Chutou com o melhor pé, o direito, e partiu finalmente o jogo entre vencedores e vencidos. Ganhou a Liga dos Campeões. Chegou ao topo da sua montanha particular.

O caminho começou a ser feito quando o tio de Didier emigrou para Paris. Anos mais tarde, numa visita a Abidjan, o tio reparou que o sobrinho era melhor do que todos os outros vizinhos no futebol de rua. Decidiu levar o pequeno Didier para França, mas a aventura não correu bem e o miúdo regressou à Costa do Marfim. A crise no país agudizou a situação paupérrima da família. Os Drogba partiram para França sem posses, apenas com um contacto familiar.
Com 18 anos, Didier foi jogar para o amadores do Levallois. A equipa perdeu um defesa direito, mas o mundo começava ganhar um ponta-de-lança. A montanha passou por Le Mans e carreira acelerou para Guimgamp, Marselha e finalmente, Londres, no Chelsea.
Levallois é uma pequena cidade francesa, promulgada por Napoleão em 1886. Nesse mesmo ano, Gustav Eiffel instalou lá os ateliers onde foram construídas todas as peças da Torre Eiffel.
Levallois é também o nome de uma técnica que os arqueólogos deram a uma forma específica de partir pedra no paleolítico. E Levallois é de onde partiu o futebol de Didier Drogba.

Melhor do que Messi e Ronaldo, só mesmo Abraham Huguet

As coisas que acontecem na terra natal de Salvador Dalí (Figueres, Girona, Catalunha). O clube de futebol Marca de L'Ham deixou de existir e regressou à competição na quarta divisão catalã. Esta equipa amadora acabou de garantir a subida à terceira e o seu ponta de lança, Abraham Huguet, marcou duas vezes no jogo do "ascenso" e chegou aos 50 golos. Como ainda faltam duas jornadas para o fim do campeonato, o recorde de Lionel Messi talvez tenha os dias contados.
Na página pessoal no Facebook, Abraham Huguet, de 27 anos, aparece vestido com um camisola do Barcelona e tem um recém-nascido ao colo também já equipado com a camisola blaugrana. Dalí pintaria um belo quadro com esta história.


fonte: azurame.net; jornal Sport

19.5.12

Quem és tu Ryan Bertrand?

O onze incial do Chelsea na final de Munique, que começa em menos de hora, tem lá o nome Bertrand. Este Bertand,sem ter feito ainda um minuto na Champions, foi aitrado para a titularidade por Roberto Di Matteo.
O nome é Ryan Bertrand, é defesa esquerdo, mas vai jogar a  médio em casa do Bayern de Munique. Tem 22 anos e tem noventa minutos para mostrar ao mundo o que é que passou pela cabeça do treinador italiano.Fez dois ou três joguitos na Premier League e na Taça da Liga Inglesa. Surpresa.

18.5.12

Há precisamente um ano, em Dublin

A emissão de rádio em directo da Antena 1 no hotel Gresham ocupou as auroras dos últimos dias nas mesinhas redondas que ficam mais próximas dos janelões com vista para a O´Connel Street. Até ao meio-dia, ainda se pode passar de carro por ali, mas depois já não, porque a Rainha de Inglaterra só vai à Irlanda quando o rei faz anos e o dia foi este.
No futebol, duas equipas portuguesas numa final europeia, só mesmo quando rei faz anos, e que melhor dia para isso acontecer do que neste dia. A primeira emissão em directo do dia a partir de Dublin terminou por volta das dez da manhã, quando as televisões estavam a descer dos quartos para o pequeno-almoço, que tomámos em conjunto, SIC e Antena 1.
No quarteirão seguinte, e virando à esquerda, porgtugueses com a camisola do Porto e portugueses com a camisola do Braga passam pela estátua de James Joyce com se não estivesse ali ninguém, ele também não vem nos livros sobre futebol. As gentes de Dublin vão-se agrupando para ver passar a rainha.
À noite, reina o futebol num estádio da federação irlandesa de rugby.  O Lansdowme Road, que haveria de  ficar muito bem nas costas do Sean Penn no filme "Este é o meu lugar", tem uma taça para Portugal, a taça pesa 15 quilos, pesados com uma cabeça no couro e com uma bola na rede. Um golo, história, um troféu, há precisamente um ano.

Os homens não se medem pelo tamanho do nome

Logo à noite faz onze anos que o Boavista foi campeão nacional. Os microfones e os gravadores foram para o Bessa logo pela manhã. O Porto não sabia o que era festejar a preto e branco e Portugal também não. O título chegou com três bolas metidas na baliza do Desportivo das Aves. A seguir ao champanhe, os campeões foram para o autocarro. os jornalistas tinham ordem para entrar, mas teriam de sair quando chegasse a hora de partir para a avenida. E a hora chegou. Veio um segurança para conferir que já não havia mais nenhum microfone a bordo. O segurança verificou e mandou sair um dos últimos, o da TSF. O repórter encolheu os ombros ao perceber que ia perder o furo. O Petit também compreendeu. E disse: "ele não vai a lado nenhum. É meu primo e pode ficar". Foi assim que o microfone andou em directo durante toda a viagem, a falar com todos os jogadores, treinadores e dirigentes. Tínhamos todos a ilusão de que aquele momento se poderia repetir nos anos seguintes, mas o futuro tinha outros planos. Ainda hoje não consigo compreender como é que se perdeu aquele autocarro.
A gratidão pela boleia do Petit, essa é eterna. E ele sabe disso.

17.5.12

Os calções de azuis de Capdevilla

Joan Capdevilla jogou durante sete anos no Deportivo da Corunha, mas não é desses calções azuis que vamos falar. Nem dos calções azuis dos dois anos de Espanhol e uma época de Atlético de Madrid. Nem dos calções azuis da selecção de Espanha. Os calções azuis que nos trazem aqui, são os calções azuis do FC do Porto.

No dia 28 de Abril de 2011, o Villareal chegou intervalo a ganhar por um a zero ao FC do Porto no estádio do Dragão. Capdevilla passou toda a primeria parte do banco de suplentes e continuou sentado ao longo do segundo tempo, no banco mais distante da baliza onde Falcao marcou quatro dos cinco golos com que o FC do Porto arrancou para a final de Dublin. Falcao trouxe a bola para o túnel e conseguiu escapar à troca de camisolas no relvado no fim do jogo. A um minuto do directo para o flash-interview, Capdevilla pediu a camisola número nove azul e branca. Falcao ficou a olhar para a própria camisola e o Capdevilla, que entendeu o sofrimento do colombiano, resolveu a situação pedindo os calções. Uma atitude de campeão da europa e do mundo.
Depois da entrevista em cuecas, Falcao foi oferecer a camisola ao defesa catalão.

27.10.10

Num estádio vazio

Esquece. Esquece os livros de papel e os beijos de mão dada. Esquece os filmes onde todos foram felizes para sempre, esquece a porta do cinema, esquece o escondidos nela, o abrigo à prova de água, esquece o barulho da chuva nas pedras, o encontro por acaso mas bom dos corpos, o motor dos carros, a borracha os travões, o disfarce e o abraço, o andamento da cidade. 
Esquece a engrenagem, os sinais e até a luzes. Esquece a frase, a linha, a estrofe inteira, esquece a letra do hino. Esquece o sentido dos ponteiros do relógio, a multidão a bater palmas, o som da bola a bater na rede, esquece-te de dizer é golo quando for, esquece-te de te levantar da cadeira de braços abertos, porque não sei se já te esqueceste mas já não te lembras do que é sentar os olhos no escuro e deixar o corpo a chorar como se não houvesse amanhã. Pode ser no vazio de um  estádio.

29.9.10

Não tinha de ser

Lembro-me de ter dormido com as chuteiras aos pés da cama, por cimas dos cobertores, com a colcha branca de renda feita pela minha mãe puxada para trás para não a sujar. As chuteiras pretas com sola preta de pitões de borracha e duas tiras brancas no peito do pé eram minhas desde o meio-dia, a hora em que as  troquei por uma nota de quinhentos escudos na feira de Espinho. Durante a tarde fui à garagem do meu pai, com cuidado para não riscar o carro, e peguei na lata de tinta preta e num pincel. Sentei-me no chão de cimento, peguei nas chuteiras e pintei as tiras brancas de preto, com cuidado para não riscar de preto a tinta branca da chapa do carro. Tinham tempo para secar, as chuteiras, até porque a estreia no pelado do parque de jogos da Rainha, com a camisola do Serzedo estava marcada para as cinco da tarde de amanhã, um sábado de verão de 1985.
Por esses dias, um goleador brasileiro do Fluminense  chegava ao FC do Porto, e apesar de goleador, tinha o lugar tapado por duas botas de ouro nos pés do Gomes. O brasileiro chamava-se Paulinho Cascavel e acabou recambiado para Guimarães, envolvido no negócio do guarda-redes dos juniores, um puto de bigode chamado Best, que devia ser o melhor do Brasília e do Dallas e pouco mais.
Ao longo da épocas seguintes o Cascavel marcou sempre mais golos do que eu, mas ele tinha a vantagem de jogar na relva, a ponta de lança ,com chuteiras adidas, numa equipa que jogava ao ataque, enquanto que eu variava da esquerda para a direita nos campos pelados de Vila Nova de Gaia com as chuteiras da feira de Espinho, esfoladas no osso do dedo grande e com terra por baixo das meias na sola do pé.
Um dia, era eu mariola dos juvenis, onde fazia com simplicidade a posição 10, e vejo na primeira página da Gazeta dos Desportos o Paulinho Cascavel com a camisola do Sporting. Eu continuava com as listas horizontais, a azul e branco do Serzedo, mas tinha por dentro, no coração as cores da camisola do Paulinho. Está na história do futebol português: ele continuou a marcar mais golos do que eu.(outro da do histórico: alguns miúdos jogavam de buço por causa dele).
No último sábado havia a hipótese de jogar de igual para igual com ele pela primeira vez na vida. Os dois no mesmo relvado, com chuteiras parecidas, embora ele continuasse com a vantagem de jogar mais perto da baliza. Para isso era preciso que o Serzedo vencesse o Canelas e que o Guimarães ganhasse à Académica. Assim foi.
O tão esperado encontro dentro das quatro linhas estava marcado para a tarde do último Sábado., num jogo de veteranos. Ele jogou e marcou um golo. Eu fiquei em casa com a rótula partida. Como no resto da história, vantagem para o Paulinho Cascavel. Foi por pouco que não nos encontramos em campo. Estava escrito que não tinha de ser.

31.8.10

Rugby, 1888

A imprensa de Leeds escrevia naquela página uma notícia de desporto. A altura do ano, o mês de Novembro, atira a imaginação para uma tarde de nevoeiro com chuva, estando a meteorologia directamente ligada ao facto de a erva ser escorredia nuns lados e inexistente noutras partes, estando aí em vez dela a terra e a água e por conseguinte a lama.
As notícias davam conta aos locais de Leeds de um jogo de Rugby onde tinha havido um castigo mais grave do que os outros castigos. Um castigo máximo. Uma penalidade! A penalty, na versão corrente do inglês utilizado no texto de origem. 
Isso foi em 1888. Em 1890, o filho milionário de um obviamente milionário produtor de linho, futebolista nas horas vagas, o filho, andava preocupado com as tácticas quase homicidas dos defesas sobre os avançados nas imediações das balizas. William McCrun abeirou-se da federação de futebol irlandesa com a ideia de um tiro nos tais homicidas que cirandavam os postes. Nasceu o penalty no futebol. Morreu a injustiça, nasceram gémeos de género feminino: a polémica e a corrupção. Nasceram heróis e nasceram vilões. Ao fim de 122 anos, o strange old game (o futebol) mantém bocas abertas, espantos, sorrisos e continua a fazer correr lágrimas. A 11 metros da baliza é onde mora o impossível. Como aconteceu no último sábado. A um condenado à morte num clube de futebol só lhe faltava ter de dar a cara e as costas à defesa de um castigo máximo. Era o pior que lhe poderia acontecer.Ou talvez não. O golo morreu nos braços do condenado à morte. O couro ouviu um coração a sair do peito.
PS: o primeiro penalty da história do futebol foi marcado no Molineux, estádio do Wolverhampton.

26.8.10

A história de Genk

A história de uma imagem fala de uma fotografia a cores. O autor da imagem é anónimo, pese embora a memória vasculhada permita dizer que o autor é uma mulher. Muito provavelmente uma mulher solteira, de vinte e poucos anos, seguramente holandesa, loira com igual certeza e alta. Alta e feia, não restem dúvidas quanto a descrição tosca de um rosto  bom para ficar atrás de uma câmara. Não foi por isso que o fizemos, mas acabamos por o fazer. Entre um e outro e outro e outro copo nesta mesa, e outro, pedimos à rapariga da mesa do lado para segurar a máquina fotográfica, apontar, na nossa direcção, sendo que nós éramos três. Pedimos para levantar o indicador da mão direita e pedimos para carregar. Na imagem, por baixo dos sorrisos, havia uma carteira com cento e cinquenta euros, com cartões, com documentos de identidade, enfim, aquilo a que se convencionou designar por uma vida inteira. Num segundo, a carteira sobre a mesa da fotografia,  já não estava sobre a mesa do bar. No mesmo segundo, a desconhecida autora da imagem tinha seguido o caminho do anonimato absoluto. Ficou um português sem identificação em Tegelen, Venlo, Holanda, a  vinte e quatro horas de regressar a Portugal, sendo que no espaço desse dia tinha de dar um salto á Bèlgica por causa de um jogo de futebol. 
Abreviando foi assim: foi seguir do bar para a esquadra da polícia, da esquadra da polícia para o sala do pequeno almoço do hotel, da sala do pequeno almoço do hotel para o carro, e uma vez no carro foi seguir viagem de Tegelen para Roterdão.A distância? Cento e setenta e sete quilómetros. No porto de Roterdão, no porão de um barco ancorado onde funcionava uma loja de artigos de pesca, entre linhas, anzóis, canas, redes, gorros e impermeáveis, havia um sistema antigo de fotos à là minute e havia um secador. Saí de lá com menos nove euros, mas com mais quatro fotografias. O funcionário do consulado português tinha ficado à espera de um português, este, eu. Eu nesse dia fiiquei de repente a saber  que estava mais gordo ou era impressão minha. Saí de Roterdão com um documento verde, onde foi colada uma fotografia anafada de mim, que me permitiria voar desde Dusseldorf até ao Porto. Não sem antes porém... haver estrada e asfalto, do mal o menos, ao longo de cento e noventa e nove quilómetros, terminando a contagem no parque de estacionamento do estádio de futebol do Genk. Os jogadores subiam ao relvado para o aquecimento. Eu mandei embora o frio na barriga com dois cachorros comprados e comidos numa roullote mais limpa do que muitas casas portuguesas, cobertos por uma cebolada da cor de mármore acabado de lavar. As tais roullotes estão aqui no mesmo sítio, de novo horas antes de um Genk - FC Porto, três anos mais tarde. Poderia perder linhas a desenvolver o conceito segundo o qual há coisas que nunca mudam. É preferível não o fazer. Antes, no aeroporto do Porto, neste dia do regresso a Genk o taxista já ia embora quando reparou em qualquer coisa esquecida no banco de trás. Qualquer coisa era uma carteira. A minha. Esta chegou a Genk para contar a história.